Assinei em apoio ao professor Rodrigo aqui:
Em 31/01/2025, o ANDES, Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, publicou uma Moção de Repúdio contra o professor Rodrigo Perez Oliveira, historiador docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e, segundo ele próprio, trabalhador sindicalizado filiado à APUB (Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia), que é filiada não ao ANDES, mas ao PROIFES (Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico).
A referida Moção apresenta-se como uma manifestação contra as publicações do professor Rodrigo em suas redes sociais pessoais que, segundo o ANDES, propagam um “discurso feminista radical transexcludente que reduz a mulheridade à observação de uma determinada genitália normalizada ao nascimento” e “desumaniza mulheres trans e travestis, aliando-se, ideologicamente, ao neofascismo que prega a completa aniquilação de corpas [sic] trans”.
Ao apresentar as ideias de Rodrigo à luz desses referenciais, o Sindicato o acusa criminalmente. Além do evidente erro de interpretá-las como derivadas do feminismo radical (campo teórico do qual Rodrigo reiteradamente demarca sua diferença e sua crítica), o ANDES incorre em algo ainda mais grave, que é acrescentar ao crime de “transfobia” o de incitação ao crime: o Sindicato afirma que o professor compactua com o "genocídio da população trans". Assim, os colegas de profissão que redigiram e aprovaram a Moção instrumentalizam de maneira irresponsável a palavra “genocídio”, que apenas os pouco versados nos debates das ciências humanas usariam para qualificar a situação e o contexto em questão. Como a MATRIA vem reiteradamente apontando, afirmações como a contida na Moção do ANDES de que “o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo” são construídas sobre metodologias enviesadas e, por isso, falhas. É igualmente falso que a população trans seja excluída dos espaços acadêmicos, como também já demonstrou a MATRIA. Essas afirmações têm uma função retórica de difundir o pânico e o ódio e de induzir o leitor a aderir à causa do ANDES contra o professor Rodrigo e contra qualquer outra pessoa que chame atenção para esses temas por uma perspectiva crítica. É lamentável a falta de rigor conceitual e de oportunismo do ANDES, cuja Moção conclui-se com o requerimento de que a mesma seja encaminhada à Universidade Federal da Bahia (onde o professor Rodrigo é docente concursado) e à Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania), “pleiteando apoio à causa”.
Quais são os objetivos do ANDES e dos delegados de seu 43° Congresso, que em Vitória (ES), em janeiro deste ano, aprovaram tal Moção? Diante de tantas mazelas que assolam as universidades públicas, o Sindicato Nacional prioriza fiscalizar as postagens de professores, como faziam os olheiros que, nos tempos da ditadura vigiavam docentes e estudantes para denunciá-los à máquina de prisão, tortura e morte do Estado? Está então aberto o precedente de caça a posições políticas e científicas incômodas, de controle do pensamento? Como ficam os objetivos, contidos no Estatuto do Sindicato, de defesa e representação dos professores? Por que optou-se pelo uso da coação e intimidação, por meio de uma Moção de Repúdio em nome de um Sindicato nacional, contra um único trabalhador?
Como ficam as liberdades de consciência e de manifestação do pensamento, garantidas pela Constituição Federal (Artigo 5º, parágrafos IV e VI)? Ao fazer referência ao feminismo radical, pretende o Sindicato legislar sobre qual corrente feminista está autorizada e qual será usada para criminalizar docentes? Qual será o próximo passo? Proibir e queimar livros escritos por mulheres e feministas de diversos campos acadêmicos que chamam atenção para a dissociação cognitiva hoje exigida às mulheres, proibidas de reconhecer e afirmar que “mulheres trans” são pessoas do sexo masculino, ou que são homens que se identificam como mulheres?
O rei está nu e ai de quem chamar atenção para isso. "Cortem-lhes as cabeças!", conclama o ANDES.
Nós, pesquisadoras e docentes da MATRIA - Mulheres Associadas, Mães e Trabalhadoras do Brasil, entendemos a Moção do ANDES como um chamado de caça às bruxas e de censura a posições filosóficas, científicas e políticas divergentes das adotadas pela hegemonia das instituições universitárias. Tal censura tem, claramente, o objetivo de amedrontar e calar todos os profissionais docentes que ousam discordar dos pressupostos e dos encaminhamentos das teorias e políticas baseadas na "identidade de gênero". Rodrigo Perez está servindo de exemplo para qualquer professor ou professora que porventura queira manifestar ideias semelhantes.
Interessante ainda observar que o Sindicato tem dois pesos e duas medidas: hoje mesmo (11/02/2025) o Sindicato soltou uma nota em apoio a “cientistas brasileiras perseguidas por sua atuação”, um dia após a postagem de Rodrigo sobre a perseguição que ele mesmo está sofrendo graças ao ANDES. Que jogada! O Sindicato não se furta de exemplarmente criminalizar o professor Rodrigo, caluniando-o, difamando-o e pedindo sua cabeça à universidade em que trabalha e ao governo do país, enquanto apresenta uma identidade verificadamente falsa de defensor de docentes! Não à toa, o ANDES inicia sua Moção afirmando que “pessoas” (e não “professores” ou “trabalhadores”) presentes no 43° Congresso manifestam sua repúdia ao colega, fazendo uso de um termo que faz desaparecer a categoria docente e a classe trabalhadora que o Sindicato deveria representar.
Pretende o ANDES que Rodrigo sofra um processo administrativo? Que a ele seja imposto um termo de ajuste de conduta, para constrangê-lo e chantageá-lo à autocensura, à retratação e ao martírio público? Que, caso ele não se cale, seja exonerado? Que seja consagrada a polícia do pensamento, agora chancelada pelo nosso próprio Sindicato? Onde querem chegar os delegados que propuseram e aprovaram essa Moção contra nosso colega?
Não é de se espantar que cada dia mais mulheres pesquisadoras e docentes universitárias juntem-se à MATRIA e se organizem contra a censura violentamente imposta em nome de uma suposta proteção a pessoas que se autodeclaram transgêneros. Nossa liberdade de pensamento, de consciência, de cátedra, e nossa liberdade teórico-metodológica embasada nas ciências, estão sob ameaça. E quem nos ameaça são nossos próprios colegas, com os quais convivemos em colegiados de departamento, associações docentes, reuniões de pesquisa, eventos acadêmicos e salas de aula. Esses colegas, organizados no 43º Congresso do ANDES, acendem as tochas, juntam-se numa turba e marcham em nossa caça.
Não à toa, cada dia mais mulheres reconhecem o autoritarismo das ideias que pretendem substituir as políticas públicas baseadas no sexo por políticas baseadas na "identidade de gênero" – algo subjetivo, infalseável e meramente autonarrativo (justamente aquilo que quem trabalha com ciência deve reconhecer como inadequado para a interpretação da realidade concreta e qualquer tentativa de sua transformação para melhor). Trata-se de uma base conceitual que ignora a realidade material, com diversas e sérias divergências com a ciência.
Diante do risco que uma postura como a dessa Moção representa à universidade pública, ao fazer científico e à própria democracia do país, exigimos, em nome de todos os docentes brasileiros que ainda se preocupam com as liberdades fundamentais garantidas pela Constituição, que a Moção divulgada pelo ANDES seja publicamente revogada, por meio de retratação formal.
Exigimos, sem prejuízo a eventuais medidas legais que o professor Rodrigo deseje tomar diante da calúnia e da difamação sofridas, que o Sindicato, a quem muitos de nós confiamos nossa representação em situações de perseguição, se posicione publicamente sobre o direito à liberdade de expressão e de cátedra de seus associados e dos professores em nosso país.
Conclamamos as associações docentes locais a retomarem o tema em suas assembleias e a repudiarem de forma veemente a Moção autoritária que o ANDES afirma ser publicada em nossos nomes.
Qualquer outro curso será uma admissão de que o Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior se tornou um aparelho para perseguição a professores de quem alguns membros do Sindicato discordam.
Assine em apoio ao professor Rodrigo aqui: abaixo-assinado