No dia 08 de março de 2024, Dia Internacional da Mulher, os Ministérios das Mulheres (MM) e dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) postaram vídeos em seus perfis da rede social Instagram, supostamente homenageando as mulheres.
Em ambos os casos, no entanto, são apresentadas pessoas do sexo masculino, conforme telas abaixo:
Não há identificação da pessoa do sexo masculino que aparece no vídeo do Ministério das Mulheres como se fosse público alvo das “novas unidades da Casa da Mulher Brasileira”, apenas por usar maquiagem e brincos.
No entanto, o vídeo do MDHC identifica com nome e função ocupada no Ministério a pessoa do sexo masculino que aparece em seu vídeo dizendo frases como “sou mulher e é claro que já me tocaram sem o meu consentimento” e “empoderar mulheres é uma revolução”:
Alguns comentários na postagem do MDHC citaram o perfil de Maria Léo no Instagram (@marialeoararuna), o que tornou possível o acesso ao mesmo, ainda em modo público naquela data (desde então, o mesmo só pode ser visto por seguidores autorizados).
Assim, recebemos de diversas mulheres prints de postagens feitas em tal perfil:
Uma primeira observação interessante é que claramente Maria Léo se identifica como “travesti” e o único pré-requisito para que alguém assim se declare, como é de conhecimento comum, é que seja um homem, já que mulher alguma pode se declarar desta forma.
(tra.ves.tir)
v.
1. Fantasiar (-se), esp. com roupas do sexo oposto. [td. : Travestiu-se de baiana para assumir o mandato.]
2. Disfarçar (-se); fazer adquirir ou adquirir caráter oposto. [tdr. + em : Travestir um vício em virtude.] [tr. + em : A derrota se travestiu em vitória.]
3. Deturpar, falsificar [td. : Travestia o significado real dos fatos.]
Ser mulher não é uma fantasia, não é adotar estereótipos usualmente associados (e impostos) ao sexo feminino. É profundamente ofensivo que o MDHC trate as mulheres como se assim fosse e que escolha alguém que se declara “travesti” para dizer “eu sou mulher” em vídeo sobre o Dia Internacional da Mulher.
O perfil traz ainda uma série de postagens que só confirmam o óbvio, de que todos sabem se tratar de pessoa do sexo masculino, dado que este tipo de postagem jamais seria aceito caso estivesse público no perfil de uma mulher empregada pelo governo ou buscando emprego em qualquer organização, privada ou pública:
O mesmo se aplica aos destaques que podem ser observados na página inicial do perfil, chamados “drogadita” e “beat boquetêra”. Quantas mulheres já foram jogadas na fogueira do cancelamento e demitidas por muito menos? Quantas mulheres deixam de ser contratadas pois pesquisas em suas redes sociais revelam meras opiniões consideradas “polêmicas”?
Na sociedade patriarcal na qual vivemos, apenas homens têm permissão para se comportarem como bem entenderem, e isso independe de como se identifiquem.
Infelizmente não é mais surpresa, dado o que vem se passando ao redor do mundo, que sujeitos do sexo masculino que se autodeclaram “mulheres” quando lhes convém reproduzam intensa misoginia e desprezo ao feminino e às crianças.
As publicações acima não fogem ao padrão: a “transgressão” tem sempre o mesmo alvo, o corpo feminino, que no imaginário masculino e neste simulacro feito pelo sexo masculino é sempre objetificado ao extremo, com fortes conotações de pornografia e violência sexual e associação com elementos infantis (bonecas, ursinhos), também sexualizados.
Dado que vivemos em meio a culturas do estupro e da pedofilia, é preocupante que o MDHC, que tem como uma de suas atribuições promover os direitos humanos de grupos sociais vulnerabilizados em geral e de crianças e adolescentes em particular, não apenas empregue mas celebre uma pessoa que se dedica a promover de forma pública uma falsa e nefasta associação entre um suposto “ser mulher” e uma objetificação violenta.
Em janeiro deste ano, tivemos que lidar com Nota do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ em favor travesti reconhecido culpado pelo estupro de uma criança. No mês de março de 2023, já havíamos sido agraciadas com uma série de vídeos extremamente ofensivos às mulheres pelo reforço de estereótipos contra os quais lutamos, a conta oficial do MDHC, o que se repete agora com a escolha de dar voz a travesti quando o assunto é Mulher.
O MDHC tem deixado claro que as pautas prioritárias, em detrimento de crianças e mulheres, são as de pessoas do sexo masculino. Não nos enganamos pelo fato delas se audeclararem de qualquer outra categoria e denunciamos a misoginia institucional de sempre.