Hoje admite-se como definição uma não-definição. A não definição de mulher se dá através do argumento circular de que mulher é qualquer pessoa que "se sente mulher", se "identifica como mulher", ou uma concepção do ser mulher inteiramente baseada em estereótipos sexistas ("mulher é quem faz/sente/se comporta de forma…"). Ressaltamos que apagar a categoria mulher não elimina a opressão contra as mulheres. Ao contrário, a intensifica porque a torna invisível.
O uso das palavras na dinâmica da linguagem não é neutro. Por isso, destacamos que ser mulher não deve se basear em estereótipos sexistas de feminilidade ou apagar mulheres das suas demandas e necessidades no debate público.
Ser mulher não é uma fantasia ou uma ideia que pessoas podem vestir e "performar", não é um conjunto de comportamentos específicos, não é um sentimento ou um conjunto deles. Ser mulher não é uma essência ou uma alma. Não é uma forma de vestir. Ser mulher não é um conjunto de funções sociais.
Também não somos ou nos definimos por partes de nossos corpos (vulva, útero, vagina) ou por funções biológicas (gestar, amamentar, menstruar, parir). Por isso, sermos nomeadas como "pessoas com útero, vagina, etc.", "pessoas gestantes", "pessoas que menstruam" é, além de ofensivo e limitante, misógino e desumanizante, já que nos definimos por sermos exclusivamente as pessoas do sexo feminino (fêmeas humanas adultas), completas e complexas - visto que há mulheres sem parte dos seios, que não menstruam, que não parem etc. - mas sempre do sexo feminino.
Como se faz políticas públicas, como se legisla efetivamente, se não se pode definir o sujeito dessa política e das leis?